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Será que não sei viver cá fora?

  • Teresa Oliveira
  • 5 de set. de 2021
  • 3 min de leitura

Atualizado: 18 de out. de 2021

Passaram duas semanas desde que iniciei esta fase na Suécia, mas tenho a sensação que passaram dois meses. A minha noção de tempo, acho que ficou estragada depois de passar tantas quarentenas em casa a olhar para as paredes. Os dias pareciam não passar e nós só pensávamos quando é que podíamos sair de casa para viver a nossa vida. Atualmente, o meu pensamento, daqui da Suécia, é quanto tempo falta para ir para um sítio familiar? Atenção, isto não significa que eu não esteja a gostar da experiência ou da cidade, mas a verdade é que está a ser muito difícil fazer a transição de rotinas e relações.

Se pensarmos bem, todas as minha relações, sejam elas amorosas ou familiares, estão distantes de mim. Obviamente, que isso está relacionado por eu estar sozinha numa cidade que não conheço ninguém, mas não sabia se estava pronta para começar do zero, outra vez. Tudo é novo, as coisas mais familiares, no meu dia-a-dia, são as minhas roupas e perfume. Quando olho à minha volta, parece que mudei de vida. De uma certa maneira mudei, mas não sei se tinha bem essa noção quando estava a caminho do aeroporto de Lisboa.

Mudanças nunca foram fáceis para mim. Eu sou uma pessoa que não consegue lidar com instabilidade e gosta de estar no seu canto familiarizada com tudo que está à sua volta. Podemos dizer que gosto de estar confortável. Isto não quer dizer que não faça mudanças e que não desafie o meu modo de vida, mas não são radicais ou definitivas. Talvez um hábito menos saudável seja modificado da minha rotina, ou uma relação que já não me identifique, mas nada de mais. Por isso, como talvez conseguem imaginar tenho dias melhores do que outros nesta terra longínqua.

Às vezes sinto dificuldade a gerir a minha vida portuguesa com a vida que supostamente tenho de aproveitar e viver agora. Vejo outros exemplos de pessoas próximas a fazerem essa transição e balanço de uma forma tão suave, noutro país, que começo a questionar : porque é que eu não consigo? Será que todos estes anos pintei-me como esta pessoa que um dia ia mudar de país para fazer algo de si mesma? Será que isso era só um desejo e que na verdade não tenho capacidades de viver esse sonho? Claro que quando estamos no nosso país, confortáveis com a vida que levamos, até já um pouco aborrecidos pela rotina repetitiva, começamos a criar estas expectativas do que será viver lá fora. O que posso dizer é que a vida cá fora talvez seja mais difícil do que esperava. Não digo isto com a intenção de desmotivar quem quer transitar de vida, mas de um certo modo, as pessoas que emigram nunca falam deste esforço que tiveram de fazer. Talvez porque quando voltam para casa, por uma fase temporária, unicamente para estar em família, não querem falar e talvez só querem esquecer essa dificuldade que sentem. O ser humano, em geral, tem dificuldades em aceitar que existem crises e nunca quer transmitir essa ideia da sua vida aos outros. Será que sente a pena daqueles que ficaram transmitem, quando abre realmente o seu coração sobre o assunto? Será que não quer manchar a tua imagem como uma pessoa vulnerável e sensível? Não sei muito bem quais são as respostas, mas quiçá no Natal consiga dizer a minha perspetiva.

Por agora, tento viver um dia de cada vez, despejando todos os meus sentimentos no meu pequeno caderno pessoal, na procura de ficar mais aliviada pela ansiedade, causada pela distância.


Tudo de bom

Teresa

 
 
 

1 comentário


Enzo Sica
Enzo Sica
04 de out. de 2021

Oi Teresa! Me chamo Enzo e sou de São Paulo - Brasil. Sigo seu canal no YouTube e estou adorando acompanhar sua experiência na Suécia por aqui.

Há algum tempo passei um ano na Itália, também fui sozinho, sem conhecer ninguém. Lendo sobre as dificuldades que você vem enfrentando ao se adaptar à vida nova, vi em suas palavras sentimentos muito parecidos aos quais eu sentia na minha vivência no exterior.

Minha mudança de país também não foi nada fácil. No Brasil, crescemos ouvindo que a vida lá fora é mil vezes melhor do que a que vivemos aqui e, dessa forma, quando nos deparamos com uma oportunidade no exterior, criamos expectativas de que tudo será perfeito, mas ao pisarmos…

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